Chapadão do Sul/MS

INTERNAUTA: “Professor de Chapadão do Sul é educador e não “tio”. Parabéns pelo seu dia

Há um tempo andou aparecendo nos discursos de muitos educadores o slogan: Sou educadora, não sou tia! Eu lia os discursos, lia os manifestos e ficava pensando comigo: mas que tem de mau nisso? Que tem de mau numa criança, num adolescente nos chamar de tia, de tio?

Esse discurso surgiu num momento em que todos estávamos alarmados com a transferência de papéis feita pela família e pela sociedade, pois enquanto olhávamos nossa salas super lotadas começamos a perceber que havia algo de errado num Estado que não queria nos pagar o suficiente, não achava que devia investir na estrutura das escolas, mas que em contrapartida tirava dos pais a responsabilidade pela educação de suas crianças, transferindo esta para a escola, para as “tias”.

Realmente, se pensarmos nisso e na responsabilidade que ronda cada tia, cada tio hoje, veremos que há sim fundamento no discurso de quem não aceitava ser chamada da “tia”, pois via nisso uma inadequada inversão de papéis. Um exemplo bacana a ser dado para justificar essa questão é a malfadada REUNIãO DE PAIS que cada escola faz, bimestralmente, com vistas a discutir com os pais os “problemas” e os acertos das classes naquele bimestre.

Ou mesmo até para conscientizá- los a respeito de seus pequenos. Olha, sou professora há bem mais tempo do que sou psicóloga e sei bem do que falo: nessas reuniões, são raras as presenças dos pais e mães que, de fato, deveriam estar ali. Quando digo isto, falo exatamente dos pais das crianças que precisam de uma maior atenção, seja por parte da escola, seja por parte da família. As reuniões ficam quase às moscas não fosse a presença dos valorosos (e poucos) pais e professores que ali se encontram.

Muitas vezes ouvi dos pais de meus pequenos que não “dá pra ir à reunião porque tenho que trabalhar”! Sim, claro, trabalhar realmente é uma questão muito importante em nossos dias, mas muitos deixam de ir trabalhar por outras questões tão menos importantes; porque não deixar de trabalhar um dia que seja, a cada dois meses para estar na escola do filho e acompanhar o teatrinho preparado com tanto carinho ou mesmo para discutir com o professor a respeito da educação de alguém tão importante pra gente quanto um filho?

Faço aqui uma pergunta que faço sempre e que, sei bem, melindra muita gente porque nos faz pensar: Se não queremos educar, se não queremos nos responsabilizar, porque temos tantos filhos? “Educar” não é tarefa do professor, não é tarefa da escola, é tarefa dos pais, da família! Mas este “educar” é aquele que compreende a concepção de pertencimento do sujeito ao mundo, a educação do por favor, do com licença, do obrigado, do esperar a vez para falar, do respeito ao próximo, do controle das emoções, etc.

é desse educar que falo e este é responsabilidade da FAMíLIA. A escola ensina algo que complementa o que vem de casa, a tal “educação de berço”, mas que em nossos dias é confusa, pois temos crianças cada vez mais novinhas dentro das escolas. Tristes tempos esses, mas é necessário adaptação. Nós mulheres saímos a campo trabalhar para melhorar as condições de vida de nossas famílias e isso de fato aconteceu, pois, hoje temos mais da metade dos lares sendo geridos por mulheres e elas não têm tido tempo para acompanhar de perto a rotina de seus pequenos, mas novamente pergunto: porque ter filhos então? Um dado interessante é o fato de que, por se verem cada vez mais pressionadas pelo mercado de trabalho e pela sociedade em si, as mulheres têm tido menos filhos! Isso a meu ver é bacana, pois se não tenho tempo, se não tenho muito a oferecer agora, que eu espere para ter meus filhos na época certa.

Mas isso, de novo, nos leva a uma indagação? E a responsabilidade por aqueles que estão aí, de quem é afinal? Do Estado, que chega a propor a criação de creches noturnas para novamente atender a um anseio da população que trabalha ou de quem, ao colocar no mundo alguém que sabe vai precisar de cuidados, não se adapta? Posso dizer isso com o peito aberto, pois criei uma e acho que todos sabem bem do orgulho que tenho dela, do quanto é amada. Me deu trabalho? Ah deu! Deu sim, isso garanto e dá até hoje.

Mas minha maior felicidade é saber que os “trabalhos” que ela me dá são tão insignificantes que corro atrás dela a qualquer hora ou mesmo deixo que se vire, porque sei bem de sua capacidade. Falta de tempo, e eu sei bem o que é isso, nunca foi um empecilho para estar com ela, para guardar suas provinhas, para apertar- lhe a orelha quando fazia arte na escola ou na rua. Fiz questão de ler pra ela quantas historinhas fossem possíveis, fiquei ao telefone com ela por horas nas madrugadas insones dela quando foi embora em busca de seu destino e virei um “zumbi” durante o dia, mas isso fazia parte do “pacote de ser mãe”.

Não que eu me arrogue aqui dotes de grande mãe, de grande isso ou aquilo, mas falar comigo sobre certas questões como tantos pais vêm falar às vezes, me remete à vontade de dizer à eles que professor é MESTRE EM FALTA DE TEMPO, pois vocês acham mesmo que o Estado nos paga para ficarmos finais de semana e feriados corrigindo as provas dos filhos de vocês? Olhando cadernos, corrigindo redações, trabalhos, etc? Não senhores! Professor não recebe um vintém para fazer o trabalho que é tão necessário ao bom andamento de suas aulas. Quer saber mais sobre isso? Vá à escola de seu filho e sente- se com os professores para saber deles como dão conta de ter uma vida, além dos muros da escola? As respostas serão surpreendentes, lhes garanto.

No entanto, é preciso também reconhecer sim que há professores e “professores”, como em toda profissão há sim aquele que denigre toda a classe com suas atitudes, com seus maus bofes, com sua falta de zelo. Mas esses, felizmente, são, como nas demais profissões, a grande minoria. Mais uma vez, para saber bem disso, basta olhar mais de perto, basta ir à escola e acompanhar a rotina dos pequenos que lá deixamos todos os dias.

Esse texto acabou virando um manifesto, mas isso era de se esperar de quem está muito incomodada com a realidade que vê à sua volta e que não a aceita. Nossas crianças têm sido vítimas da violência, das drogas, do abandono e isso, senhores pais, senhores educadores, senhores governantes, é parte de um problema que juntos devemos entender e solucionar. Não basta querer do Estado que ele tome conta e providencie tudo aquilo de que preciso para viver quando não faço nem minha parte!

Qual é minha parte nisso tudo? EDUCAR MEUS FILHOS E OFERECER- LHES BEM MAIS DO QUE UM PRATO DE COMIDA E CAMA LIMPINHA Já SERIA UM BOM COMEçO.

Aos meus queridos amigos, à todos os que, mesmo não fazendo parte da Esfera EDUCAçãO, mas que lutam pela integridade de nossas crianças e nossos jovens digo:

PARABéNS PELO DIA DE HOJE! PARABéNS POR TODOS OS DIAS E, ACIMA DE TUDO, OBRIGADA!

Sem vocês nossos sonhos de um país melhor também ficariam órfãos!

FONTE (Katiusce Nogueira /// Psicóloga do CRAS Parque União)

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