A tecnologia nos trouxe a real possibilidade de experimentar situações que eram consideradas impossíveis ou vistas como meros produtos dos filmes e livros de ficção científica. Quem imaginaria há trinta anos que seria possível conversar com uma pessoa que mora em outro continente por vídeo chamada? Ou que poderíamos encontrar qualquer informação rapidamente à distância de um clique? Celulares e tablets com toda a funcionalidade e potência que conhecemos, e que estão se tornando ferramentas básicas e banais, não eram cogitados pela grande parte das pessoas do planeta.
CONSOME NOSSA VIDA – Olhando bem, toda essa (r)evolução tecnológica que testemunhamos aconteceu em menos de um século! Dispositivos cada vez menores e com mais potência são criados, ao passo que um novo mundo, o virtual, começa a tomar conta do nosso cotidiano. A ironia disso tudo é que é exatamente esse mundo virtual, irreal, resultado da soma tecnologia e internet, que consome uma grande fatia das nossas vidas reais.
DIREITO à FICAR OF-LINE – Conversando ontem com meu amigo Cesar, Editor Chefe deste veículo de comunicação, ele mencionou uma matéria do programa FANTASTICO da Rede Globo sobre as pessoas, na França que estão usando o direito de se DESCONECTAREM da internet. Os funcionários de empresas não querem mais atender whatsapp profissional fora do trabalho. A tecnologia, vejo como colocado acima, que é uma mão a mais na roda em nossas vidas, facilita-se uma enormidade a vida de qualquer pessoa, mas as pessoas estão dependentes radicais.
ESPETACULARIZAçãO DA MORTE – Não nos permitimos sentir tédio. A necessidade de absorver informações, produzir conteúdos, faz com que nos sintamos culpados e ansiosos quando não estamos fazendo nada. Já vemos uma resposta à esse lifestyle cibernético. Um exemplo disso é o suicídio nas redes sociais. Algumas pessoas, cansadas da compulsão de estarem conectadas o tempo todo, acabam se matando virtualmente. Quem nunca conheceu alguém que deletou suas contas do orkut, twitter e facebook?
WHATSAP ACABA COM AQUELA VIAGEM EM FAMíLIA – Transformamos as pessoas as vezes em serviços 20 horas, e o que é pior, achamos que podemos, a facilidade de comunicação tirou o nosso bom senso. Você já prestou a atenção na sua rotina de vida, cito a hora do lazer. Saímos um pouco, às vezes, para uns lugares bonitos que merecem contemplação, tranquilos, de paz, mas o dito cujo do celular não nos sai da cabeça, vem as perguntas, chegou watts? Quem viu minha postagem no face? Chegou e-mail!
FIM DA LEITURA – Pare para pensar: Se você tinha o costume de ler, quantos livros você pegava para ler? E Hoje com o advento da tecnologia, quantos lê? Quantas vezes deita sem o celular ou o notebook no colo? O mundo gira absurdamente mais rápido, e nós juntos, nunca o tempo é suficiente para fazermos tudo que programamos, ou será que estamos jogando com a tecnologia, acreditando que ela resolva tudo e esquecemos de viver? Perdeu-se o patamar de liberdade, de viver decentemente. E sua família, seus relacionamentos, quantos ainda tem?
ESCRAVOS – A verdade é que as realidades estão se mesclando e o que antes era (aparentemente) simples e unilateral, ou seja, ter uma vida baseada na presença física das relações humanas, agora caminha para uma vivência complexa, com oportunidades nebulosas. Não quero dar o alarme do fatalismo, muito menos levantar a bandeira do saudosismo não-tecnológico. Seria até estranho vindo da pessoa viciada em internet. No entanto, é necessário refletir como a tecnologia afeta nosso comportamento para que possamos extrair o melhor dela.
Afinal de contas, a ideia inicial era essa, não era?
COMO DESCONECTAR – Mas até quando vamos aguentar tanta pressão? Será que não estamos indo com muita sede ao pote? A avalanche de notícias e novidades está ajudando a criar indivíduos ansiosos e compulsivos. O vídeo Disconnect to connect (Desconectar para conectar), de uma operadora de celular tailandesa é um interessante exemplo de reflexão. Precisamos desconectar para interagirmos com quem está do nosso lado, parar criarmos laços com quem está presente.
Cabe a nós sabermos administrar tais ferramentas. Ansiedade e compulsão sempre estiveram aí, são parte do nosso sistema emocional quando algo está em desequilíbrio. A questão não são os sintomas, eles apenas nos avisam de que algo está fora do lugar. Desligar é bom e eu sempre me lembro disso quando estou em ambientes em que a tecnologia não chega. Vamos sim, ser conectados, mas que busquemos saber o momento de desconectar, sem culpas ou angústias. Equilibrar as realidades pode ser uma boa maneira de lidar com o paradigma dos tempos modernos.
Ficar offline (também) é preciso.
TEXTO João Roberto / Email: [email protected]
Adaptação ao texto/entrevista da antropóloga Genevieve Bell, diretora de Interação e Experiência da Intel Labs aos repórteres de O GLOBO Carlos Alberto Teixeira e André Machado no ano de 201º.
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