Morreram hoje Álido Brun (85) e seu filho Nairo Brun (58). Ambos eram conhecidos na região, no estado e no mundo pela criação de uma qualidade de queijo considerada compulsiva por especialistas internacionais. Álido faleceu na manhã deste domingo (27) no Hospital Regional de Campo Grande após contaminação por Covid-19 e sofrer um AVC (Acidente Vascular Cerebral). Na mesma madrugada o filho morreu na Santa Casa em consequência de um câncer que vinha sendo tratado há mais de dez anos. Quis o destino e a doença que ambos partissem no mesmo dia.
SANTA ROSA (RS), o começo da história – O Corpo de Álido Brun será transladado para Paraíso das Águas e deverá ser sepultado com o filho ainda neste domingo (27), no cemitério municipal Jardim da Saudade. A trajetória de Àlido começou em 1980 quando saiu de Santa Rosa (RS) com destino a São Gabriel do Oeste, no norte do Estado, para plantar soja. Em 16 anos, seu modelo de trabalho rendeu até prêmios no Ministério da Agricultura, mas mesmo assim veio à falência.
ASSENTADO QUE VIROU CONSULTOR – Por ser produtor rural, teve preferência no projeto de loteamento do Incra (Instituto Nacional da Reforma Agrária) e conseguiu uma área em Chapadão do Sul, no Assentamente Sucuriú, onde ele, a esposa Elda Molinare Brun, de 77 anos, e os filhos, chegaram em 2000.
DESBRAVADOR VISIONÁRIO – Àlido levou a cultura da uva para região, mas foi no queijo que obteve sucesso. “Eu tinha umas vaquinhas e decidi pegar um ramo desvalorizado e transformá-lo em um grande negócio”, conta. A propriedade fica localizada na BR-060, km 54, em Paraíso das Águas. Foi um dos desbravadores da região com sua família, investiu em produção de queijo a partir da criação de gado da raça Jersey. Seu queijo ganhou fama e correu o mundo.
FAMOSOS DA POLITICA E DA TV ADORAVAM O QUEIJO – Ele identificava sua marca como “único no mundo”. Apreciado por autoridades, políticos, celebridades e foi para a mesa do programa Ana Maria Braga da Rede Globo, à mesa do ex-presidente Lula, do atual Jair Bolsonaro, o sertanejo Sérgio Reis e Jô Soares. Chegou a ser exportado para vários estados e país. Escreveu o livro “Oi doso evolui à ser jovem”, de sua história recentemente. Era homem de muitas histórias e criatividade.
PROJETOU NACIONALMENTE PARAISO DAS ÁGUAS – produto é feito de forma totalmente artesanal e orgânica. O queijo meia cura ganha a coloração natural amarelinha, fato que, segundo o dono, já chamou a atenção até de queijeiro francês. Deixava de lado a preocupação com a idade e sempre esbanjava saúde e vitalidade. Foi um dos pioneiros destaques da região, tornou seu pequeno lote de assentamento em uma área produtiva e famosa, trazendo fama e divisas para a região de Paraíso das Águas e Chapadão do Sul.
MUNDO SE RENDEU AO SABOR – Há cerca de dez anos o então site ochapadense.com.br postou a reportagem “ Jô Soares, Lula, Ana Maria Braga e Sérgio Reis em Paraíso das Águas” numa ilação à preferência destas pessoas famosas pelo Queijo Brun. A relação dos famosos Paraíso das Águas se limitava à degustação do queijo fabricado por Álido Brun, considerado um dos melhores do mundo por especialistas do Brasil e do exterior.
SELO PRÓPRIO – Anos depois o produto receberia um selo de qualidade próprio e ligado ao município. Assentado que virou consultor do Incra (Instituto Nacional de Reforma Agrária) Álido Brun se denominava como um homem acostumado em aceitar desafios. Implantou o cultivo de uvas na Região Centro-Oeste antes de descobrir uma fórmula de queijo que virou coqueluche no mundo artístico e até mesmo na cúpula do Planalto.
QUEIJO NO PLANALTO – O presidente Luis Inácio Lula da Silva ganhou um dos queijos de Brun durante uma visita do superintendente do Incra em Brasília. Na ocasião, Lula se impressionou com a qualidade do produto e serviu para ministros e assessores diretos. A seguir mandou dois emissários buscarem novas unidades para manter o estoque. Já Sérgio Reis servia a guloseima para agradar amigos e outros artistas em seu rancho, em Angra dos Reis. A iguaria é acompanhado por vinhos importados. Ana Maria Braga já levou o queijo à mesa de “Mais Você”, exibido pela manhã na Rede Globo.
BOLSONARO RECEBEU QUEIJO DE PRESENTE – Recentemente – em 2019 – o queijo foi levado ao Senado e os parlamentares se esbaldaram. Um especial de sete quilos foi enviado ao presidente Jair Bolsonaro, de quem o produtor rural era fã. Há vários que em Minas Gerais, a Meca dos queijos brasileiros, o produto de Álido Brun virou estrela e foi aprovado pelas maiores autoridades no assunto do mundo. Ganhou nota máxima em sabor.
ALIMENTO COMPULSIVO – Ao contrário dos similares europeus, que saciam na primeira degustação, ele é consumido com mais avidez, até terminar. Amsterdan, na Holanda, conhecida pela qualidade de seus produtos, também se rendeu. Professores de queijo da Suíça e da França já visitaram Paraíso das Águas para ver o processo de fabricação.
REVELOU O SEGREDO – Após oito matérias à nível nacional, três delas da Rede Globo, Álido Brun decidiu revelar o segredo do queijo que surpreende os grandes gourmets do mundo. Segundo ele a qualidade do leite é a “alma do negócio”. Aprendeu a tratar a mastite das vacas em Porto Alegre com um veterinário espanhol. A doença é o maior inimigo da qualidade do queijo. Auto-vacina (Hemoterapia) no gado também fazia parte da fórmula do sucesso de Brun.
FRAQUIA NÃO FOI LEVADA ADIANTE – O produtor não aceitou nenhum dos inúmeros convites de industrialização em larga escala para não afetar a qualidade. A abertura de franquias com produções limitadas de 200 quilos e supervisionadas por funcionários de confiança jamais foi levada adiante.
