Por Claudinei Antônio Poletti – Advogado
Daqui a exatamente uma semana (em 20/01/25) Donald Trump tomará posse para o seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos da América. Trump não é conhecido por ser um conciliador ou um “gentleman”, pelo contrário, tem um gosto peculiar pelo atrito, pela eloquência, enfim, pela negociação levada às últimas consequências, onde ser vencedor numa disputa significa muito mais que a vitória em si. Significa repercutir a vitória, na maioria das vezes antes mesmo dela acontecer ou até independentemente de acontecer. Para isso, na visão “trumpista”, não há limites ou, se há, não são conhecidos. O importante é causar. Nesse contexto, o 47° presidente americano está mais “afiado” do que nunca. Nos últimos dias disse que irá comprar a Groelândia (não falou em invadir), propôs ao Canadá que passe a compor a grande nação americana, os USA, evidentemente, disse que irá retomar o Canal do Panamá (também não disse que irá fazer à força) e afirmou que irá mudar o nome do Golfo do México (principal saída de produtos americanos) para Golfo Americano.
INCORPORAÇÃO DE TERRITÓRIOS
Isso tudo foi dito agora, em 2025. Pouco provável que seja levado a cabo, tal qual “proposto” por Trump, mas, certamente, haverá movimentos nesse sentido, especialmente em relação à Groelândia, importantíssima para os anseios americanos de ter uma saída própria pelo Ártico. A se conferir. É fato que eventuais movimentos do USA no sentido de incorporar territórios (vale lembrar que a grande nação americana tinha somente treze colônias inicialmente e que o restante foi comprado de outros países) ou de retomar com mais força a utilização de um canal na América Central, que pode ser o do Panamá ou a construção de um novo em Costa Rica ou na Nicaragua, terão impactos inegáveis na economia mundial. No entanto, não serão esses fatores que impactarão de imediato na nossa economia, se é que causarão mudanças algum dia. O que tem causado apreensão para o Brasil, especialmente para o nosso agronegócio, é a “ameaça” de Trump de aumentar as tarifas para produtos agrícolas brasileiros.
TAXAÇÃO DO AGRO BRASILEIRO
O futuro presidente americano, afirmou, sem meias palavras, que Índia e Brasil, dentre outros, têm taxas elevadas para os produtos americanos e que, se tais taxas forem mantidas, ele subirá as taxas para os produtos oriundos desses países, na mesma medida. Há quem atribua essa atitude às divergências ideológicas do próximo mandatário americano com nosso Governo. Apesar de Trump e Lula não comungarem de ideologias similares, longe disso, e de o presidente brasileiro, num dos muitos atos de “genialidade” às avessas, ter manifestado publicamente sua “torcida” pela vitória da Kamala poucos dias antes da eleição, a questão passa longe disso. Nações não têm “amigos” (quem tem parças é o Neymar), têm interesses, especialmente no campo comercial. E, sim, o brasil tem taxas elevadas para alguns produtos americanos, especialmente, mas não exclusivamente, para o Etanol, que é taxado em 18% (dezoito por cento).
QUEDA DE BRAÇO COM A CHINA
Nesse contexto, é possível que Trump cumpra a “ameaça”, haja vista que do nosso lado não há nenhuma possibilidade, ao menos pelo sinalizado até o momento, de que esse Governo renunciará à arrecadação, ainda que isso afete diretamente o principal setor da economia. Nossa balança comercial (total) é deficitária em relação aos USA, mas eles ainda são o segundo destino dos nossos produtos agrícolas. Por outro lado, Trump diz que retomará a “guerra comercial” com a China, iniciada no “Trump 1” e interrompida pela derrota nas eleições de 2020. Se isso acontecer, e deverá acontecer, é provável que a China amplie as importações de produtos agrícolas brasileiros, o que acarretaria ganho para nosso agronegócio. Teremos um equilíbrio entre diminuição de exportação para os USA e aumento para China? É possível, mas isso não é garantia de continuidade, especialmente no médio e longo prazo.
GUERRA FRIA REEDITADA?
Como disse antes, nações não têm amigos, têm interesses. Nesse sentido, nada, absolutamente nada, impede que, apesar de eventual estresse inicial, China e Estados Unidos entrem num acordo comercial para colocar fim ou minimizar as divergências, fortalecendo, em vez de enfraquecer, as transações comerciais entre eles. Fato é que são situações complexas, dentro de um complexo cenário mundial. É verdade que China e Estados Unidos nunca estiveram tão distantes ideologicamente. Também é de conhecimento geral que há quase uma reedição da “guerra fria” e que a China é a URSS de hoje. Por outro lado, as duas maiores potências da atualidade têm relações comerciais para além de posições ideológicas e, na mesma medida, um depende do outro.
O fluxo de negócios entre eles é intenso, como jamais foi entre os americanos e os soviéticos. Portanto, é temerário cravar que um arroxo comercial entre as duas superpotências nos beneficiará indefinidamente, como é prematuro dizer que haverá retaliação americana ou que, se houver, acarretará prejuízos enormes ao nosso agro. Mas é fato que a situação terá movimentações, possivelmente abruptas, e que tais movimentações têm mais a ver com situações meramente comerciais do que ideológicas, o que, em última análise, cria um cenário de mais fácil equalização.