Chapadão do Sul/MS

“Para o Brasil, 2021 foi mais um ano de oportunidades perdidas”, afirma Saulo Batista.

Coordenador do movimento LIVRES critica postura de Bolsonaro e diz que é preciso focar na geração de empregos.

No ano em que o Brasil e o mundo tiveram de fazer o possível para se recuperar do choque global causado pela pandemia do novo coronavírus, as economias tiveram de lidar com quebras de cadeias produtivas e choques de preços que, no Brasil, foram impulsionados ainda por instabilidades e uma das piores crises hídricas das últimas décadas.

Para o empresário Saulo Batista, o Brasil perde a oportunidade de avançar quando deixa de priorizar a agenda de reformas para se dedicar àquilo que chamou de “questiúnculas”. Segundo o coordenador do LIVRES, movimento político de inspiração liberal, o governo Bolsonaro “desperdiça tempo, energia e recursos com temas que somente são prioridade para a militâncias radicalizadas e minorias hiper engajadas”.

Qual a sua avaliação de 2022? Na sua opinião, o ano termina com saldo positivo?

Eu gostaria de poder fazer uma avaliação mais positiva sobre o ano de 2021, até porque houveram, sim, alguns avanços importantes para o Brasil. As primeiras concessões já realizadas em função da aprovação, ainda em 2020, do Marco Legal do Saneamento, e a sanção da chamada “Lei das Ferrovias” são exemplos de sinais que apontam para um rumo virtuoso, de melhoria do ambiente de negócios e de maior liberdade econômica para empreender. Entretanto, a meu ver, quando consideramos que, mesmo em meio a um cenário de indicares como inflação elevada, contração da atividade industrial e queda da renda dos trabalhadores, a pauta prioritária do governo se volta para questiúnculas, e não para as reformas que podem impactar na retomada da atividade econômica e gerar os empregos que tanto as pessoas precisam neste momento, o meu diagnóstico para 2021, infelizmente, acaba sendo de mais um ano onde as oportunidades perdidas acabam pesando mais do que os poucos avanços registrados.

Sua avaliação é de que 2021 foi um ano de “oportunidades perdidas”. Esse é um discurso recorrente, que a gente vê ser repetido ano após ano. O que falta ao Brasil para que ele não deixe mais passar essas oportunidades?

Em uma palavra: prioridade. Já pensou o bem que faria o Brasil se o presidente Bolsonaro tivesse empregado, para fazer andar a reforma administrativa, o mesmo esforço e tivesse empenhado o mesmo apoio que ele fez em relação ao debate do voto impresso? Como seria se a agenda das privatizações fosse tão cara ao presidente, tão presente em seus discursos, tão priorizada na pauta do seu mandato, quanto é o tema da liberação das armas de fogo? O quanto teria avançado a reforma tributária se a lógica da “guerra fiscal” entre os estados, que impede uma arrecadação de tributos menos onerosa e mais racional, fosse enfrentada pelo Bolsonaro com a mesma disposição que ele demostrou na defesa da cloroquina? A gente perde oportunidades de fazer o Brasil avançar, ano após ano, quando desperdiça tempo, energia e recursos com temas que somente são prioridade para a militâncias radicalizadas e minorias hiper engajadas, quando deveríamos focar naquele que é o principal desafio do Brasil atual: gerar empregos. Nenhuma das questões que alimentam essa guerra ideológica entre extremos cada vez mais radicalizados pode ser tida como prioridade quando temos em mente o drama de quem está sem trabalho, sem emprego, sem conseguir garantir o próprio sustento e o de sua família.

O presidente Bolsonaro seria, então, o principal responsável por isso?

O governo Bolsonaro não é de todo ruim, mas a postura pessoal do presidente é péssima. Vamos tomar como exemplo recente a atuação do governo federal em relação as enchentes na Bahia. Ninguém pode dizer que o governo foi omisso: houve liberações da ordem de R$ 200 milhões para recuperação de rodovias e de R$ 700 milhões para assistência às populações afetadas, por exemplo. A estrutura do governo federal se fez presente, inclusive com a presença de ministros. Mas, o que fez o presidente? Em qual nação democrático do mundo o chefe de governo faz repetidas publicações de passeios na praia, sorridente, andando de jet-ski, dançando na lancha, em meio a uma tragédia com dezenas de milhares de desabrigados? É preciso compreender que o respeito à liturgia do cargo é importante, as palavras e a conduta do presidente da república tem consequências e, sendo assim, o peso dessa responsabilidade precisa ser reafirmado na conduta do presidente.

Isso que você exige do presidente não seria o que se chama de “sinalização de virtude”? Não seria essa uma expressão do que se conhece como “politicamente correto”?

Quando o presidente Bolsonaro age dessa forma, se reafirmando alguém contra esse “politicamente correto”, ele também está sinalizando uma conduta que, segundo a visão de mundo de seus apoiadores mais radicais, é uma virtude. A meu ver, a questão que se coloca é a seguinte: quando o presidente abandona a liturgia em busca do aplauso fácil de sua militância, isso é bom ou ruim para o Brasil? Eu acho ruim. Quando presidente se permite afirmar que tem provas que a própria eleição foi uma fraude, sem apresenta-las depois, eu acho ruim. Também acho ruim quando ele se permite insinuar a possibilidade de ruptura democrática, falando em agir “fora das quatro linhas da constituição”. São condutas que geram instabilidade, alimentam especulações sobre a fragilidade de nosso regime democrático e fomentam insegurança jurídica. Um preço muito alto a se pagar por todos nós brasileiros em troca de “curtidas” e “visualizações” nas redes sociais do presidente.  

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