Chapadão do Sul/MS

ARTIGO – De quem é a culpa pela guerra na Ucrânia? Da OTAN, claro!

Autor Claudinei Poletti – Advogado

Quem viveu nos tempos da guerra fria certamente ouviu falar da OTAN, que era (e ainda é), uma espécie de demônio, a origem de todos os males, na visão da esquerda, obviamente. Nos últimos dias, a OTAN voltou ao epicentro das conversas de “especialistas” do mundo todo, principalmente os “professores de história do WhatsApp” e, de uma hora para outra, foi novamente içada à posição de grande vilã, sendo, na visão dos mestres, a maior responsável pela guerra Rússia X Ucrânia.

Mais que isso. A OTAN conseguiu, em terras tupiniquins, colocar Lula e Bolsonaro exatamente do mesmo lado, aquele que condena o imperialismo americano e a OTAN como a externalizadora desse mal (sim, Lula e Bolsonaro já estiveram juntos muitas vezes, especialmente na batalha contra a Lava-Jato, mas dessa vez isso está às claras).

Como não sou especialista em história, nem mesmo na categoria WhatsApp, apenas gosto do tema, estudo sempre que posso (cada vez menos), sem pretensões profissionais ou acadêmicas e atendendo a um pedido do Cesar Rodrigues (dono, mantenedor e CEO do site), vou falar da OTAN, sob a minha perspectiva, evidentemente.

É preciso e vou tentar ter esse cuidado, separar o que são fatos e o que é opinião, haja vista que os primeiros existem independentemente do que se pensa deles, ao passo que a opinião é passível de críticas e, obviamente, de ser completamente absurda.

Fato: a OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte – foi oficialmente criada em 04 de abril de 1949. Dizem que a data foi escolhida em homenagem ao maior clube de futebol do sul do Brasil, quiçá do país inteiro, que havia sido fundado quarenta anos antes, em 04 de abril de 1909 (isso não é fato, nem opinião, é fake mesmo).

É preciso retroagir um pouco para entender o porquê da necessidade de uma organização supranacional naquele momento e, em especial, o porquê de os Estados Unidos participarem (são, por vezes, confundidos, eis que muitos acham que a OTAN “é dos USA”).

Para vencer a segunda guerra e eliminar de uma vez por todas o mal representado por Hitler, aliaram-se vários países, sob o comando da Inglaterra, dos Estados Unidos e da União Soviética. Foi preciso. À época, Churchill declarou que se Hitler invadisse o inferno, ele se aliaria ao diabo, em clara referência à união com a URSS. 

Ocorre que Stalin tinha interesses nada republicanos. Não se tratava de defesa territorial pura e simples, como era o caso dos europeus. O demônio russo queria dominar a Europa inteira, exatamente como Hitler.

No dia seguinte ao fim da segunda guerra (não sei se exatamente no primeiro dia), Stalin começou sua incursão para amealhar mais e mais territórios na Europa. Havia um acordo de não invasão, onde a Europa Oriental ficaria sob o controle da URSS e a Europa Ocidental permaneceria livre (o muro de Berlim, principal símbolo dessa divisão, somente seria construído em 1961). Essa divisão foi denominada por Churchill de “cortina de ferro”.

Após alguns acordos locais, a Europa se deu conta de que, sozinha, não iria conseguir conter o ditador Russo. Surgiu então a OTAN, cujo principal objetivo estatutário era de defesa.

Duas eram as principais metas do “Tratado”: (i) impedir a invasão territorial da Europa Ocidental (fato); e (ii) manter a Alemanha, que fora responsável direta pelas duas grandes guerras, desmilitarizada (fato, também). Evidentemente que o inimigo natural da OTAN era a URSS e por isso a maledicência da esquerda, para quem o comunismo é só um regime que prega a igualde. Curiosamente o auxílio militar mútuo somente foi convocado única vez, após os ataques de 11 de setembro e, obviamente, não tinham a URSS do outro lado.

Esse, aliás, é o ponto em que se bate a esquerda e, recentemente a direita bolsonarista: se a URSS deixou de existir, por que a OTAN não foi dissolvida? Evidentemente que o mundo, pós queda do muro de Berlim, apresenta outra configuração e, sem entrar em questões do Oriente médio e afins, vale ressaltar que a Rússia, mesmo após o fim da União Soviética, jamais foi um país democrático. Não dá para esquecer que em 2008 invadiu a Georgia, em 2014 a Criméia e, agora, a Ucrânia.

Então, sim, o inimigo ainda existe.

Parêntese para enfatizar que o principal responsável pela queda do muro de Berlim, pelo fim da URSS, Ronald Reagan (o maior presidente americano no pós-guerra), também foi comediante antes de se tornar Governador e depois Presidente. Entendeu, Bolsonaro?

Enfim, a OTAN nunca agiu no ataque, sempre na defesa (lembra o Grêmio contra o Real Madrid, só que mais eficiente), ainda que tenha cometido alguns excessos, todos devidamente debitados na sua conta.

Dois pontos que estão passando despercebidos pelos inquisidores atuais: (i) a OTAN está voltando a ser o que era, gostem ou não seus detratores (para quem não sabe a briga do Trump com Angela Merkel foi justamente o abandono da OTAN pelos europeus); e (ii) a Alemanha voltou a se armar (foram destinados 100 bilhões de Euros de imediato). Embora a Alemanha atual é inegavelmente pacífica, mantê-la “light” era um dos objetivos da OTAN.

Na verdade, falar da OTAN exige muito mais conhecimento do que possuo e mais espaço, o que tornaria a leitura cansativa (mais?). De qualquer forma, e isso é opinião pura, a OTAN, diferente do que afirmam Lula e Bolsonaro e a esquerda mundo a fora, não é responsável nem de longe pelo conflito atual, pelo contrário, pode ser a solução, o que, por outro lado, poderá recrudescer sentimentos que estavam “arquivados”.

Por fim, fico com uma frase que ouvi hoje pela manhã (domingo), num vídeo do professor HOC: “democracias não entram em guerra com outras democracias”. Em pelo menos um dos lados, haverá uma ditadura. Pensemos nisso.            

Autor Claudinei Poletti – Advogado

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