Claudinei Poletti – Advogado
Não, o mundo não vive uma polarização ideológica. O antagonismo não é entre direita e esquerda, como muitos querem fazer parecer. Na verdade, os conceitos de esquerda e direita estão, digamos, flexibilizados.
Jair Bolsonaro se autointitulou o grande combatente mundial do comunismo. Os vermelhos não teriam vez com ele. Questione o presidente e receberá de imediato: “comunista”, “esquerdista”. Pois bem, Bolsonaro não consegue e não quer disfarçar sua admiração por Vladimir Putin, a quem, inclusive, chamou de “conservador” (Edmund Burke (antigo) e Roger Scruton (moderno) devem estar se perguntando onde foi que erraram).
Lula tenta condenar o tirano russo, mas acaba sempre com um “mas”. Por sua vez o PT e a parte da imprensa “esquerda radical” sequer disfarçam a torcida e até o apoio a Putin. Somente a título de exemplo, ontem o “jornalista” petista Kenedy Alencar (os irmãos foram pegos na roubalheira petista, que agora, por obra do STF, não existe mais) disse que Putin teve razões para invadir a Ucrânia (oi!) e, há poucos dias, tinha cravado que o russo faz no presente pode ser comparado aos ataques ao Iraque pelos USA (oi! de novo).
Quando o apoio ou a reprovação é de nações, nenhuma dúvida de que apoio explícito vem somente de nações onde vige o socialismo, comunismo ou o qualquer que seja a denominação da aberração. Venezuela, Cuba e Coréia do Norte, aplaudem o déspota. Além, obviamente, da China que pode, inclusive, ser o fiel da balança no conflito, mas que, como sempre, tem seus próprios interesses, acima de ideologias.
Putin, por sua vez, para justificar o injustificável, oscila entre acusações aos Estado Unidos, dizendo que, no passado, os americanos invadiram países e, cúmulo do absurdo, jogaram bombas atômicas para acabar com a segunda guerra e aos ucranianos, a quem acusa de serem neonazistas.
Sobre isso, aliás, cabe um parêntese, haja vista que os “influencers” de WhatsApp decidiram que, sim, a maioria da população ucraniana é nazista. Ora, até as tias do zap menos alienadas sabem que não há nazismo sem o consequente ódio aos judeus, sendo esse, aliás, o principal argumento dos comunistas para dizerem que a diferença entre eles é enorme, eis que o nazismo é fincado no ódio e o comunismo no amor (risos, sobre a parte final).
Pois bem, Zelensky é judeu e foi eleito com mais de 70% (setenta por cento) dos votos. Ou seja, mais de setenta por cento da população ucraniana, não é nazista. Na verdade, o que há é um bando de aloprados fazendo barulho, suficiente para Putin justiçar sua barbárie.
Definitivamente, o conflito não é ideológico.
Não é também comercial. Evidentemente que a não rendição da Ucrânia e a tomada de posições, ainda que forçadas, dos americanos e da Europa, trará consequências comerciais no mundo todo. Mas daí a dizer que se não aplaudir o ditador russo, não teremos mais KCL é de uma completa falta de noção. Também, não haverá corte no fornecimento de gás e petróleo para a Europa ou para quem quiser e puder comprá-los.
Não? Então como a Rússia sobreviverá, se sua receita vem, basicamente, dessas commodities? O corte no fornecimento acontecerá (já está acontecendo) por questões logísticas e, especialmente, pela exclusão da Rússia do sistema Swift, que implica no isolamento financeiro da ex-potência.
Por fim, internamente, a tomada da Ucrânia também não tem viés puramente comercial, haja vista que, apesar de ter o segundo maior território da Europa e ser grande produtor agrícola, especialmente de trigo, isso, por si só, não justificaria a invasão.
Então qual seria a motivação? Bem, parece que nenhuma dúvida há de que a motriz de tudo é o desejo por poder e pelo poder totalitário. Putin não esconde de ninguém, apesar de “líderes” dizerem que ele jamais tomaria medidas extremas, sua predileção pelo totalitarismo, ainda que muitos insistam que a Rússia é uma democracia. Não é!
Na verdade, o mundo vive momentos tensos, com ditadores ou candidatos a déspotas, querendo assumir o controle. Se Putin, de um lado, Xi Jinping do outro, aumentarem seus tentáculos e a eles se somarem as inúmeras ditaduras existentes mundo a fora, especialmente no oriente médio e até nas Américas (Cuba, Venezuela), e, ainda, se os candidatos a ditadores, autorizados ou não, tomarem gosto e colocarem em prática seus desejos mais profundos, a maior parte do território mundial será tomado por ditaduras.
E isso é grave, muito grave. Não é assim? Então porque voltaram os ataques aos americanos, como se eles, a mais duradoura democracia do mundo moderno, fossem ditadores, imperialistas e afins?
E a OTAN? Bem esse assunto é extenso, mas tem muitos que nem sabem o que é e, no entanto, afirmam categoricamente que a culpa é dela. Tá, alguém consegue apontar um, apenas um, ataque da OTAN? Vejam, defesa não é ataque.
Anotem. Se o mundo sobreviver, se Putin não apertar o botão vermelho (tem mais da metade de todas as ogivas nucleares do mundo), o que veremos é a luta da democracia contra ditaduras e aí, peço socorro a Churchill, para quem “a democracia é a pior forma de governo, com exceção de todas as demais”.
Claudinei Poletti – Advogado