Chapadão do Sul/MS

 A invisibilidade social das doenças ocupacionais. A exemplo da LER. (Claudette Freire Machado Rocha)

Frente as mudanças na reestruturação produtiva e sob os determinantes da globalização do capital, que impõe a flexibilização nas relações sociais do trabalho, sejam eles: Os informais, os autônomos, os domiciliares, o desemprego pela introdução de novas tecnologias e o subemprego, bem como mudanças sociais na esfera políticas e econômicas em voga. A gerência da força de trabalho tem repercutido negativamente nas condições de vida e de saúde da classe trabalhadora, em especial, na origem das doenças ocupacionais relacionadas ao trabalho. Tais como as Lesões por Esforço Repetitivo (LER), um conjunto de enfermidades que coadunam o grupo de Doença Osteomuscular Relacionada ao Trabalho (DORT), desgaste mental com repercussões do sofrimento psíquico e, entre outras, as complicações ou associações psicossomáticas.

O esgarçamento do tecido social e da solidariedade entre os trabalhadores, devido o desmantelamento dos sindicatos, torna a reabilitação profissional de modo individual e não coletivo, pois é necessário prever ações de assistência à saúde dos afetados, mas também adoção de medidas no sentido de intervir nos casos, de modo a evitar agravamentos e com ausência da Comunicação de Acidente de Trabalho – CAT e por consequência a subnotificação do adoecimento e diagnósticos evasivos.

A nova NR 17 – Ergonomia, incluiu os aspectos psicossociais e cognitivos que comprometem a segurança e saúde do trabalhador, antes não contemplada. Entre várias situações, citamos: A sobrecarga mental, níveis de atenção elevada, esfera de tomada de decisão, exigência de memória e a imposição pelo cumprimento de metas. Aspectos que impactam diretamente com a produtividade, o ritmo e a saúde física e mental do trabalhador.

Os fatores ocupacionais que contribuem para o surgimento das LER e DORT são: movimentos repetitivos, ritmo de trabalho intenso, móveis e equipamentos incômodos, postura inadequada, falta de tempo para ir ao banheiro, cobrança contínua por produtividade, exposição ao frio e exposição a vibrações.

A Análise Ergonômica Preliminar – AEP e da Análise Ergonômica do Trabalho – AET, após análise o profissional propõe soluções e/ou medidas de conforto a serem implementadas pelas empresas, na proposta ERGONOMIA, SEGURANÇA e SAÚDE NO TRABALHO traz como resultado a elevação da produtividade e queda do absenteísmo nas empresas.

Segundo FRANCA, Iris (2010) “Adverte que não se pode perder de vista que o processo de desgaste biopsíquico da força de trabalho ocorre em determinado modo de produção, a partir de determinadas exigências e processos de trabalho, que pode consumir lenta ou fatalmente a vida de quem trabalha. Assim, não basta prestar assistência aos adoecidos, mas é necessário também criar ações mais amplas capazes de interferir na fonte causadora dos males da saúde”.

Idas e vindas dos trabalhadores em busca de reabilitação profissional 

“A história ocupacional de uma trabalhadora entrevistada é revelada na Carteira de Trabalho, com 28 anos de contribuição, o que hoje tem se tornado cada vez mais raro, sendo mais de 20 anos na função de chanfradeira. Essa atividade é desenvolvida em Fábricas de Calçados e exige o movimento de pinça dos dedos das mãos para segurar a peça de couro a ser chanfrada na máquina, além da regulagem constante do maquinário. Quanto à situação de saúde, a entrevistada diz que desenvolveu, primeiramente, um problema de coluna, em decorrência dos dez anos que trabalhou (chanfrando) em pé e na esteira mecânica, portanto, o seu ritmo de trabalho tinha que acompanhar o da linha de produção, definido pelo chefe daquela seção.

A trabalhadora conta que o esforço repetitivo, o ritmo, o fato de trabalhar em pé e virar (o corpo) para pegar as peças na esteira, lhe desencadeou um problema na coluna, chegando a ficar oito meses afastada pelo INSS, mas não foi feita a CAT [Comunicação de Acidentes de Trabalho]. Conta que, pouco tempo após o seu retorno do afastamento médico ao trabalho, foi demitida. Mas como ela menciona, havia se especializado na função de chanfrar e, inclusive era a responsável pelas amostras (“[…] sempre que faz amostras tem que ter mais atenção porque não pode ter um defeitinho”), o que a favoreceu em conseguir outro emprego, embora já não tivesse mais a saúde de antes.

Falou que passou a sentir fortes dores nos ombros e por isso os afastamentos do trabalho começaram a ser constantes e sempre que voltava ao serviço era demitida. Assim começou a fazer maior esforço e a tomar medicamentos para não demonstrar a dor. No último emprego, em que permaneceu sete anos, explica que, às vezes, ia ao banheiro para chorar de dor. Diz também que sempre que procurava atendimento médico, estes a orientavam a deixar aquela atividade, mas nunca foi feita a abertura de CAT e que ela não deixou de trabalhar por questões de sobrevivência. Aos poucos, começou a ter problemas de estômago, acha que foi em decorrência do excesso de anti-inflamatórios e analgésicos; de insônia, devido à dor que se intensificava a noite (segundo ela, não tinha “lado para dormir”, pois os ombros doíam); de humor, uma vez que já levantava sentindo o incômodo do problema, especialmente nos braços e nas mãos que “formigavam e ficavam pesados”; o que culminou perda de movimentos das mãos.

O ortopedista, que vinha cuidando do seu estado de saúde, disse-lhe que ela estava com tendinite crônica e que não tinha muita coisa a fazer. Encaminhou-a, então, para o reumatologista, que, segundo a trabalhadora, diagnosticou fibromialgia. Assim, o seu problema passou a ser visto como uma doença reumática. Teve alta do afastamento pelo INSS, foi demitida, e além do problema de saúde passou a enfrentar sérios problemas econômicos.

A trabalhadora apesar de ter adoecido em decorrência do processo de trabalho, não teve o devido reconhecimento. Num primeiro momento, ela diz que chegou a ficar afastada do trabalho, por oito meses, pelo INSS, provavelmente, na espécie B31, para o qual não há o vínculo do problema de saúde com o trabalho. Na sua saga, ela destaca que ao retornar do afastamento, foi demitida. Após, em outros serviços, sentia dor, mas tinha medo de falar do seu problema e ser novamente, demitida”. (Texto extraído do Artigo Invisibilidade social das doenças relacionadas ao trabalho: desafios para a reabilitação profissional, autores LOURENCO, Edvânia; BERTANI, Iris).

Claudette Freire Machado Rocha

Assistente Social com Ênfase em Ergonomia e Técnico de Segurança do Trabalho.

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