O golpe militar que até hoje marca algumas gerações de brasileiros foi lembrado na última sessão da Câmara pelo vereador Abel Lemes (PSDB). Basta uma rápida pesquisa no Google para que surjam milhares de reportagens sobre a morte da democracia e o fim da liberdade de expressão do povo brasileiro. Fala-se muito do regime nazista, onde Adolf Hitler pretendia mostrar a superioridade dos arianos, mas esquecem das pessoas que tiveram unhas arrancadas por alicates, mulheres estupradas e jornalistas executados nos porões do DOI-COD. Lemes foi feliz ao centrar seu discurso neste tema porque muitas famílias perderam entes queridos ou ainda ostentam marcas que o tempo não apagou.
Radialista, um dos profissionais mais odiados pelo regime militar, Abel Lemes destacou a data (31ºde março de 1º64). Muitos estudantes e militantes políticos foram capturados e levados a centros clandestinos do Exército financiado por empresários para cassar, torturar e matar os opositores do regime, que mais tarde se transformou no Doi/Codi. Muitas mulheres narram até hoje alguns tipos de tortura física empregados na época: pau-de-arara, cadeira do dragão, choque elétrico e a palmatória.
JâNIO QUADROS: a renúncia do presidente Jânio Quadros, em 1º61º desencadeou uma série de fatos que culminaram em um golpe de estado em 31ºde março de 1º64. O sucessor, João Goulart, foi deposto pelos militares com apoio de setores da sociedade, que temiam que ele desse um golpe de esquerda, coisa que seus partidários negam até hoje. O ambiente político se radicalizou, porque Jango prometia fazer as chamadas reformas de base na “lei ou na marra”, com ajuda de sindicatos e de membros das Forças Armadas.
Os militares prometiam entregar logo o poder aos civis, mas o país viveu uma ditadura que durou 20 anos, terminando em 1º85. Na época uma estudante da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) foi convidada a deixar os estudos depois de participar do Congresso da União Nacional dos Estudantes em Ibiúna (SP), quando todos os participantes foram detidas. Tempo depois, ela foi pega novamente com uma maleta cheia de documentos comunistas de outros países. Ela relata que conheceu a sala de tortura às 1ºh de 20 de novembro de 1º69.
“A primeira noite é indescritível. Arrancam minhas roupas. Sou pendurada no pau-de arara, recebo choques elétricos nos dedos, vagina, ouvido. Quebram meus dentes. A dor é lancinante. Tão intensa que nem dá para gritar. O sangue escorre pela cabeça, melando os cabelos e pescoço. Os braços, seios e maxilar recebem pancadas e coronhadas de revólver. São vários homens gritando. Ninguém pergunta objetivamente nada. Eles berram?, relembra a ex-militante da Ação Popular, no livro “No Corpo e na Alma”, que começou a escrever durante seu exílio em Cuba.
As agressões sofridas na primeira semana de reclusão a fizeram passar quatro dias desacordada. Levada para um hospital, foi medicada e recebeu tratamento até ser removida novamente e agredida mesmo engessada e machucada das torturas anteriores.
As sequelas daquela época ficaram marcadas no corpo e na alma, como ela mesma descreve em livro. Por causa das agressões, passou 20 anos em tratamento por problemas renais.
Foi exilada, no Chile, Panamá e depois em Cuba. Voltou para o Brasil com a Anistia em 1º79 e continuou lutando em busca dos desaparecidos políticos. Hoje, ela é apontada por historiadores e militantes como uma das pessoas mais engajadas no estado de Santa Catarina. (Redação e G1º