*Ribeiro Arce
Os governantes brasileiros foram pegos de surpresa com o gigantesco movimento popular nas principais capitais e cidades do país. Iniciado em protesto pelo valor da tarifa do transporte coletivo e pelo péssimo serviço oferecido aos cidadãos, o movimento ganhou rapidamente as ruas e se espalhou Brasil afora.
Inicialmente os governantes trataram o movimento com descaso, desdém e violência. O governador do estado mais rico e populoso e o prefeito da maior cidade do Brasil, respectivamente, Geraldo Alkmin governador de São Paulo e Fernando Haddad prefeito de São Paulo, se encontravam em Paris, quando o movimento popular ganhou as ruas da cidade. Da Europa, como se fossem os donos da verdade, da justiça e do estado, mandaram seus recados intimidatórios.
Porém, ?caíram do cavalo? no linguajar popular. O povo ignorou suas ordens e foi pra rua e a polícia reagiu com violência. Na semana da abertura da Copa dos Campeões, o Brasil, mais uma vez, era destaque negativo na imprensa daqui e do exterior. A partir daí o movimento já havia se espalhado por todo o Brasil e não era mais uma luta apenas pela redução da tarifa do coletivo urbano, outros ingredientes entraram no cardápio dos manifestantes.
As manifestações agora não eram mais apenas pela diminuição do valor da passagem do ônibus urbano e o serviço de péssima qualidade oferecido. A corrupção, os gastos com a Copa do Mundo, a PEC 37, a educação, a segurana, a saúde e a impunidade estão presentes nas manifestações, deixando os governantes boquiabertos e sem saber o que fazer. Tanto é que o governo federal, por meio do ministro da secretaria geral da presidência, Gilberto Carvalho, disse que procura compreender os protestos.
Realmente para muitos é mesmo compreensível nãoentenderos gritos e gemidos populares.Se não vejamos: não andam espremidos nos ônibus, não percebem o aumento da inflação nas compras mensais nos supermercados, seus filhos não estudam na escola pública, não dependem do SUS para tratamento de saúde e andam cercados de segurança, protegidos da bandidagem que assola as cidades e amedronta a população e, por fim, recebem mensalmente polpudos salários pagos pela população.
A maioria dos políticos se porta como se fosse dona do povo. Tanto é que ficaram estupefatos ao ver a multidão na rua sem ser levada pelos partidos políticos. é outra lição vindas das ruas: o modelo partidário está esgotado e tem que ser mudado urgente. Passou da hora do Congresso Nacional acordar e promover as mudanças necessárias ouvindo a base social que trabalha e produz nesse país, para não correr o risco de ser atropelada pela multidão ansiosa por melhores condições de vida.
*Professor da rede estadual de ensino de MS.
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