Chapadão do Sul/MS

APÓS 3 anos de investigação PC de Chapadão do Sul encontra tesouro da história do Brasil. Metralhadora Hotchkiss M1922 da Coluna Prestes tinha sido furtada 

          Após cerca de três anos de investigação a Polícia Civil de Chapadão do Sul conseguiu localizar e apreender 15 armas de colecionador furtadas na cidade. Entre elas os agentes se depararam com um tesouro histórico de valor incalculável. Trata-se de uma metralhadora Leve Hotchkiss M1922 de fabricação francesa que pertenceu a um combatente da Coluna Prestes, liderada por Luiz Carlos Prestes “O Cavaleiro da Esperança”. Era um movimento revoltoso organizado por tenentistas que percorreram o Brasil entre 1925 e 1927 combatendo soldados do Governo Federal durante a Primeira República. Andaram mais de 25 mil quilômetros do Sul do Brasil até a Bolívia com as tropas federais no encalço. A metralhadora foi achada por um agricultor integrante da Família Marks na década de 80 no Projeto Sucuriu (Incra).

A Coluna Prestes passou pela região de Chapadão do Sul há mais de cem anos. Por algum motivo que fica no campo das conjecturas esta arma caiu das mãos de um soldado de alta patente e foi sendo enterrada com o tempo na localidade conhecida hoje como INCRA (Projeto Sucuriú). Junto a ela tinha balas intactas e cartuchos, sugerindo algum confronto contra forças oponentes ou entre os guerrilheiros, numa revolta interna. A metralhadora era um objeto de cobiça por seu alto valor, potência para a época (7 mm)  e capaz de fazer a diferença em qualquer combate na década de 20.

AGRICULTOR da família marks acha metraladora

Um produtor rural da Família Marks  estava gradeando a propriedade quando bateu num objeto de metal. A primeira vista não parecia ser uma arma e ele colocou num galpão, onde futuramente seria descartada.  Esta notícia se espalhou através do agrimensor  Truma e chegou até o advogado Wilson Pinheiro que na época trabalhava no administrativo e financeiro de uma subsidiária da Fazenda Campo Bom.

FOTO Advogado Wilson Pinheiro descobriu origem da arma

Apaixonado por  armas Wilson Pinheiro pediu a Truma que o levasse no local.  O agrimensor conhecia todos os colonos da época, inclusive os irmãos Marks. Ele já imaginava que poderia ser uma arma. Pinheiro propôs uma negociação e um do irmãos sugeriu a troca por uma espingarda calibre 36. A metralhadora ficou enterrada por cerca de 60 anos, faltava a parte de madeira, consumida pelo tempo, mas estava completa.

ORIGEM da arma descoberta

Foi enviada a um armeiro de Ribeirão Preto (SP) para restauração. Apesar de mais de cem anos de fabricação funcionava perfeitamente. A numeração foi enviada para a redação da Revista Magnum na época, especializada em armas. Os jornalistas descobriram que a metralhadora tinha o Brasão da Brasil e fora roubada por Luiz Carlos Prestes de um quartel do Rio Grande do Sul antes do início da revolta tenentista.

QUEM empunhava a poderosa arma

Luiz Carlos Prestes e os cerca de 1,5 mil homens da  coluna pararam no Assentamento do Incra antes de seguirem viagem em direção à Bolívia, num trajeto épico de fuga.  Entre eles estavam Miguel Costa, Juarez Távora e Isidoro Dias Lopes, nomes históricos do Rio Grande do Sul. A presença da pesada e valiosa metralhadora Leve Hotchkiss M1922 deixada no INCRA é um mistério que jamais será revelado. O revolucionário que a portava certamente morreu em combate, segundo os vestígios como balas intactas e deflagradas achadas junto à arma. Quem o matou não teve tempo de pegar o armamento, fato típico de combates ferozes na luta de vida ou morte.   

JÚLIO Martins compra para colocar num museu

A notícia chegou até o comendador Júlio Alves Martins (In Memorian), também apaixonado por armas antigas. Ele iniciou uma longa tratativa com Wilson Pinheiro para adquirir a valiosa metralhadora Leve Hotchkiss M1922. Pinheiro cedeu quando o comendador disse que construiria um museu e a arma ficaria exposta à visitação. A negociação foi fechada com a troca por um terreno na frente da agência da CEF (Caixa Econômica Federal), na época sem o valor comercial de hoje. Com a venda deste imóvel Pinheiro terminou o acabamento interno da casa onde reside atualmente.

COLUNA PRESTES EM MS

        No então Mato Grosso a Coluna Prestes passou em duas oportunidades. No início da marcha atravessou a região de Ponta Porã com destino a Goiás e no final, já decidida em exilar-se na Bolívia, rasgou nosso estado de leste a oeste, passando pelos atuais municípios de Alto Taquari, Campo Verde, Chapada dos Guimarães, Cáceres, Barra do Bugres (onde ocorreram os principais combates e mortes) e o temido Pantanal, durante a cheia.

No Sul do estado (hoje MS), especialmente em Corumbá e Campo Grande, houve manifestações de simpatia à Coluna, via imprensa. No norte, a opinião pública foi influenciada pelo posicionamento do governador Dr. Mário Corrêa da Costa, que posicionou se duramente contra os ‘revoltosos’, mobilizando a Polícia Militar e grupos de jagunços para enfrentar Prestes e seus homens.

No início de 1927 a Coluna Prestes, invicta nos principais combates, adentra na Bolívia e depõem as armas. Foi na Bolívia que Prestes toma conhecimento e converte se à doutrina comunista. Sob a liderança principal do gaúcho e engenheiro militar, Luís Carlos Prestes, a ‘Coluna Invicta’ foi o primeiro movimento popular vitorioso em nossa história. Aumentou o prestígio do movimento Tenentista e reforçou sua oposição às oligarquias, além de ajudar grandemente a minar as estruturas da ‘República Velha’, abrindo, caminho para a Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder, inaugurando uma nova era no Brasil.

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