Chapadão do Sul/MS

“SAIA JUSTA” – Mulheres temem representar companheiros após agressões. “Escondi hematomas com maquiagem para trabalhar”

         A Polícia Militar de Costa Rica foi acionada para atender ocorrência de Violência Doméstica e acabou apreendendo uma pistola arma Mauser calibre 25 e maconha. Um homem foi preso em flagrante. Testemunhas destacaram que o agressor usava um pedaço de pau  para bater na mulher. Ela garante que não foi agredida, mas o companheiro acabou preso em flagrante e conduzido á Delegacia de Polícia Civil.

O homem se entregou, sem resistir.  A casa estava com móveis e vidros quebrados. Sobre a mesa uma porção de maconha pesando 15 gramas. No chão a Mauser calibre 25, com duas munições intactas. A vítima disse eu não foi agredida fisicamente, mas confirmou que os pertences foram danificados e o homem colocou a pistola na sua cabeça.

Nem sempre as vítimas de Violência Doméstica denunciam os companheiros. A Polícia Militar foi acionada por testemunhas que presenciaram a confusão. Nestes casos, sem a representação os agressores acabam soltos e voltam a bater nas mulheres. Elas ficam numa saia justa. Caso mantenham a denúncia da Delegacia de Polícia os ataques podem ser ainda mais violentos. Apesar disso o silêncio significa a manutenção das surras. A PM qualificou a ocorrência como Posse Irregular de Arma de fogo de uso permitido / Ameaça (violência doméstica) e Portar Drogas para consumo pessoal.

‘Escondia hematomas no rosto com maquiagem”

*Lyvia Prais é jornalista

       E é justamente por isso que resolvi escrever este artigo. Eu fui vítima de violência doméstica há cinco anos, durante dois longos anos. E o fator que mais me impediu de denunciar meu agressor foi o medo. O fato de tornar as agressões públicas me causava medo pela exposição que eu teria que enfrentar sozinha, além de perder o emprego que o agressor havia me “arranjado”.  

Os tapas na cara, a mordida no rosto que tive que esconder com maquiagem para ir trabalhar, os puxões de cabelo e socos, atualmente fazem parte da pior fase do que sofri. Não ter tido o sentimento de justiça e ter sobrevivido sozinha à violência física me custou minha própria saúde. Foram duros e longos cinco anos acometida por transtornos psiquiátricos e doenças crônicas de fundo psicossomático até que eu pudesse ter o equilíbrio emocional de falar sobre isso sem sofrer surtos psicóticos.

Cada vez que um caso como o meu ganha repercussão pública eu fico abalada, assim como várias outras mulheres que eu conheci desde que usei minhas redes sociais para escrever sobre os abusos que vivi. O mais chocante foi constatar que não só os casos de violências são muitos, mas que a maioria dessas mulheres também não denunciaram. Minha rede de acolhimento virtual me faz bem, mas, por outro lado, me indigna. Essa indignação vem de não ter sido acolhida por pessoas próximas que hoje se colocam virtualmente lutadores pelo fim da violência contra mulher sempre que um caso vem à tona.

A indignação me rasga o peito quando procuro amparo legal e sou ridicularizada pelo tempo que deixei passar sem ter feito denúncia. Como foi o caso de advogados que consultei recentemente. Nota-se então uma baixa eficácia na lei e a grande necessidade de sua reformulação, no que se refere inclusive em atendimento psicossocial e humanizado. A violência que sofri não ficou lá atrás, no passado. Ela trouxe consequências drásticas para minha vida e ela não deixa de existir porque se passaram alguns anos.

A sociedade só vai avançar na erradicação das violências contra a mulher quando parar de descredibilizar as vítimas e permitir que algozes sigam a vida naturalmente. Isso não é um problema individual, é um problema social, coletivo, de uma sociedade doente.

Que fique registrado que o agressor não tem cara. Ele pode estar ao seu lado, ser seu amigo, seu irmão, seu filho, seu vizinho, seu chefe. Ele pode ser aquele cara legal que o primeiro ímpeto das pessoas vai ser dizer “Fulano? Mentira, ele é muito gente boa”. Os agressores estão entre nós, cotidianamente, usando máscaras para se proteger da justiça e não do vírus.

Não duvide quando uma mulher disser que foi agredida, não a culpe, não defenda o agressor na frente dela. Porque ela está lutando para sobreviver a marcas que jamais serão cicatrizadas em sua alma, em seu corpo e em sua mente. Você que não passou por isso não sabe como é essa dor.

Minha luta pela superação é cotidiana e seguirei criando forças de mãos dadas com outras mulheres que também lutam pela libertação feminina, pela justiça e pelo fim da cultura de violências contra a mulher. Buscando encorajar, por meio de minha própria experiência, que outras mulheres consigam ter condições e coragem para denunciar seus agressores. Não é fácil, mas só quem viu a morte de perto sabe o gosto de ser sobrevivente.

Não se cale, denuncie! Abaixo ao patriarcado!

*Lyvia Prais é jornalista

(redação /brasilreal/justificando)

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